HOSPITAL DOORS - ROCK HISTÓRIA - PARTE 04

HOSPITAL DOORS - ROCK HISTÓRIA - PARTE 04

— “Nossa estréia é dia 03/05 de 2008”

“Você ta louco?”
“Para batera, está muito em cima!”
“Agora fudeu!”

Nunca escondi que às vezes sou meio impulsivo, não me lembro como resolvi que o Hospital Doors deveria estrear, e assim, marquei um show no PUB FICTION BAR, mesmo sabendo que a banda não tinha nenhuma composição própria pronta e que os covers ainda estavam bem meia-boca. Isso explica muito dos “elogios” como seu “louco” ou seu “Filho da P...” que ouvi quando dei a notícia. Para ajudar, o Ronnie não estava conseguindo cantar e levar as linhas de baixo, ou seja, ainda faltava na banda um baixista.

“Calma, ainda tem um mês e meio!”

Acho que minhas palavras de “ajuda” só aumentaram o desespero da galera, a estréia tinha de ser algo legal, que chamasse a atenção e acima de tudo precisávamos de um baixista. Ainda que algumas composições já estavam encaminhadas, não era o suficiente para uma apresentação e foi ai que começou a correria de ensaios e o desespero. Quatro músicas ficaram prontas nesta época, músicas que mais tarde, conformariam o primeiro EP do Hospital, o “Song’s Abouth Nothing”. Entre os covers, giravam Interpol, Kings of Leon, White Stripes, Strokes.

*Cartaz do show de estréia do Hospital Doors

Como baixista resolvemos chamar o Nenê, um ótimo músico, e uma das poucas opções que tínhamos. A idéia no início era de que ele segurasse ao menos este show, já que eu tinha “feito uma merda”. Em dois ensaios o Nenê já tocava todas as músicas. Como afirmou a Raíra Porto:

*Éderson Gusmão, agradecimentos pelo primeiro show e, principalmente, por ter se firmado na banda, nosso atual e grande baixista.

“Depois de um tempo o Nenê foi convidado a participar de um show pra banda, e acabou, muito felizmente, permanecendo na banda. Considero a entrada a do Nenê um marco na trajetória do Hospital, pois foi quando as musicas tomaram mais forma, e a banda começou a assumir e encontrar sua identidade.”


Concordo plenamente com essas palavras. Com ressalvas, a apresentação de estréia foi bem bacana, deveria de ter umas 130 pessoas no PUB. Tocamos apenas oito músicas, foi o que deu para preparar! Aquela é, ainda hoje, uma noite memorável.

*Primeira formação do Hospital Doors - (da esquerda para a direita) - Ronnie Petterson, Michel Gomes, Éderson Gusmão, Gustavo Baro e Marlon Fiori

*Hospital Doors, promo, foto por: Hugo Lemes

*Outra das promos, também por Hugo Lemes.

Uma viajem, um bolo e um fim...

A estréia havia sido animadora, o Além da Teoria estava tocando e coisas caminhavam. Foi ai que, num belo dia, apareceu uma das coisas que mais marcaria as nossas vidas, a YIELD PRODUÇÕES. O anúncio, era de um festival em Campo Mourão, fiquei sabendo não lembro por onde, e dizia:

“O FESTIVAL QUE PASSA PARA 500 MIL PESSOAS ATRAVÉS DA YIELD TV CANAL 20. INFORMAMOS QUE A YIELD TV FARÁ A GRAVAÇÃO, EDIÇÃO E A VEICULAÇÃO DOS MELHORES MOMENTOS DO FESTIVAL E QUE TODAS AS BANDAS PARTICIPANTES RECEBERAM UM DVD DA APRESENTAÇÃO GRAVADO JUNTO A EMISSORA, ALEM DE UMA ENTREVISTA NO LOCAL DO EVENTO.”

Como complemento ainda incluía:

“O festival é dividido em 3 etapas e uma final, cada etapa tem 20 bandas, sendo que 7 passam para grande final.A banda vencedora receberá junto a produção do evento um CD DEMO de 4 músicas, gravado no Yield Estudios ou se preferir o valor em moeda corrente brasileira.”

*O "Fenômeno" Yield Produções.

Não pensamos duas vezes, e rapidamente escrevemos o Hospital Doors e o Além da Teoria. O Nenê, que era pra ser no primeiro show do Hospital, um “Severino”, ou “Quebra Galho”, foi ficando, as coisas andavam bem, os ensaios eram produtivos, as composições legais, e ele se firmou. Assim, nós iríamos com as duas bandas à um grande festival, aliás, ainda tocando fora de Maringá, era um “fenômeno dos Deuses”.

O que você não percebe neste início de banda é que tudo que é muito fácil, tende a ser um desastre. Dentre o regulamento do “BIG MASTER SHOW E DVD” da Yield Produções, constava o seguinte:

“Cada grupo tem até durarem as vagas para efetuar a sua inscrição as primeiras 20 bandas que fizerem a inscrição estará com a vaga garantida para participação do festival...(Além de)... Cada banda receberá uma cota de no mínimo 30 ingressos para serem vendidos entre o público da banda Com o valor facial expresso de R$ 10.00 em moeda corrente brasileira.Lembrando que 50% dos ingressos devem ser pagos a produção ao receberem os mesmos,e os outros 50% no dia do evento.”

Desta forma, com os ânimos à flor da pele, surgiu a idéia mais “brilhante” que já tivemos:

1 BANDA = 30 INGRESSOS (HOSPITAL DOORS)
2 BANDAS = 60 INGRESSOS (ALÉM DA TEORIA)
1 INGRESSO = R$ 10,00
60 INGRESSOS = R$ 600,00

Não poderia ser tão difícil vender aquilo, e para nosso delírio, ainda foram as duas bandas “classificadas”. Agora, era arrumar uma forma de vender tudo isso, colocar os pés na estrada, gravar um DVD, ser divulgado para 500 mil pessoas e “rumar ao estrelato”! Contudo, havia um problema. Como vender ingressos para um evento em Campo Mourão e onde ninguém conhecia as bandas que se apresentariam? Até que alguém da banda sugeriu:

“Loca um ônibus, nós vendemos o ingresso e ainda damos o transporte”
“Genial!”

Aquilo foi um BOOM, nós resolvíamos tudo. Locaríamos um ônibus, era provável que até locássemos mais uma Van para acomodar todo mundo, venderíamos os ingressos. Então eu e o Michel fomos atrás de um tal ônibus para a empreitada. Não me lembro direito dos custos, mais com cerca de 600,00 reais locamos um ônibus de primeira, com 42 lugares. Era o que precisávamos.

Moral da história:

DÍVIDA INICIAL: R$ 600,00 +
R$ 600,00 =
DÍVIDA FINAL: R$ 1.200,00

No fim das contas, na véspera do dia do festival tínhamos vendido uns 18 lugares apenas. A idéia de locar mais uma Van, sem dúvida não poderia rolar. Lembro-me que divulgamos a “excursão” na Internet. Em uma comunidade do ORKUT, que deixamos o anúncio, com os preços e a praticamente dantesca lista das bandas a se apresentar um camarada escreveu o seguinte comentário:

“Nossa, o festival vai ser bem Underground mesmo!”

Tiramos uma grana violenta do bolso para cobrir os gastos, até o caixa do Hospital Doors que tinha uma graninha para gravações saiu vazio. Chegando lá, em Campo Mourão, a coisa era uma desorganização só, não tinha palco, o lugar era trash, o público que foi, mais trash ainda. Sem o dinheiro para cobrir os ingressos, o Além da Teoria nem chegou a tocar, com tantas bandas sujas, o comentário que ficou sub-entendido no nosso inconsciente foi o de que: Foi melhor mesmo, nós seríamos apedrejados.

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Ronnie Petterson, Marlon Fiori)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Gustavo Baro)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Michel Gomes e Gustavo Baro)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Éderson Gusmão)

O “Mago” (Gabriel Matsuo, baixista do Além), que já estava desanimado com a banda e nós mais desanimados com ele ainda, acabou vendo que aquilo era mesmo o fim da linha para ele. Ele ainda reclamou da performance dos outros baixistas que se apresentaram no evento com um memorável:

“Coloca todos esses merdas ai pra duelar comigo. Quero ver se eles agüentam!”

O Hospital Doors ainda acabou tocando. Esse foi um verdadeiro Bolo. Se apresentar em lugar porcaria, perder uns 700,00 reais do seu bolso, tocando em Campo Mourão. O memorável festival da Yield Produções.

Quando voltamos, não demorou e o “Mago” saiu do Além da Teoria. Por outras palavras, e não pela ausência de seu talento, aquilo significou, tempos depois o fim do Além da Teoria, enquanto o Hospital continuava caminhando. Vários meses depois recebi em minha casa uma carta. Era o tão “esperado”, “máster”, “hiper”, “bori-bori bruts” DVD da apresentação em Campo Mourão da Yield Produções. Uma gravação mal feita, num lugar ruim, de som pior ainda e praticamente realizado com uma câmera digital de qualidade duvidosa, onde havíamos gasto muito dinheiro.

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Ronnie Petterson)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Gustavo Baro)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Michel Gomes)

*Hospital Doors - Yield Produções - Campo Mourão. (Éderson Gusmão)

Continua no próximo episódio...

TEXTO: Marlon Fiori

Um comentário:

Programa_FiléComFritas disse...

Cara, que roubada, essa desse festival! E quem são esses "organizadores", afinal? E as outras bandas, vocês não têm notícia de nenhuma delas, alguma história parecida? Tipo da picaretagem que só atrasa o rock independente no Brasil!
Abraços, tô seguindo o Rockumentário do Hospital Doors!

Rafão.